Em muitos dos discos de Bjork é possível perceber uma temática ou conceito, se em 'Utopia', disco lançado pela artista anteriormente ao lançamento deste, mostrava conceitualmente uma fantasia utópica sobre o mundo atual em que fosse encontrado uma solução para os problemas da atualidade, em 'Fossora', Björk se inspira no reino fungi para elaborar o conceito do álbum e traz consigo um significado de desenterrar suas raízes e as redescobrir, e penso que esse conceito conseguiu ser bem explorado em vários aspectos, tanto liricamente quanto sonoramente. Falando especificamente de seu som, várias canções parecem ter sido elaboradas de maneira a remeter a esse tema de fungos e muitas delas conseguem abordar esta temática com maestria, em "Mycelia" por exemplo, a artista parece ter tentado criar uma faixa que tivesse uma melodia que soasse como cogumelos crescendo e, realmente, se escutá-la com cuidado, o ouvinte consegue imaginar ao ouvi-la o crescimento do fungo.
A produção do disco é um quesito de bastante destaque. O trabalho de Björk é Gabber Modus Operandi na produção é surpreendente, olhe por exemplo para "Atopos", a artista nos últimos tempos esteve bastante inspirada no gabber e isso é perceptível na produção de várias faixas, na canção introdutória é onde percebe-se uma das melhores utilizações dos elementos do gênero ao produzi-la, ela trabalha na música juntamente a Gabber Modus Operandi - artista o qual tem gabber como seu principal gênero musical - e juntos produzem uma sublime faixa com um uso excelente e criativo das influências deste estilo. Além dessa, merece ênfase "Allow", com sua produção rica e que conta com um uso gracioso e fascinante de instrumentos de sopro.
A lírica de 'Fossora' é encantadora e impressionante, sendo um ponto que merece ênfase no registro. O álbum aborda uma grande variedade de temas, no entanto, um assunto que destaca-se é a morte da mãe de Björk, e a artista consegue falar sobre isso com excelência nas letras das canções as quais abordam essa temática. "Ancestress" é, de longe, a canção que mais se destaca nesse aspecto, nela, a cantora fala sobre a morte de Hildur Rúna Hauksdóttir, sua mãe, de maneira emocionante: "My ancestress’ clock is ticking / Her once vibrant rebellion is fading", canta a artista descrevendo os momentos finais de vida de Hildur em duas das melhores linhas da faixa.
O uso de seu vocal, durante grande maioria do registro, é encantador, gracioso e em vários momentos carregados de criatividade. Em "Mycelia" por exemplo, Björk, de forma similar ao feito por ela no sublime 'Medulla', utiliza apenas de sua voz na faixa, sem acompanhamento de qualquer tipo de instrumento, e essa tentativa de criar uma música A Capella foi de resultado bastante positivo, elaborando uma excelente canção com uma performance vocal não tão surpreendente quanto o de seu quinto álbum de estúdio mas, ainda assim, extremamente fascinante e criativa. Ademais, "Freefall", "Allow" e "Ancestress" são faixas que também merecem ênfase nesse quesito, com a artista cantando encantadoramente nelas.
5 anos após 'Utopia', Björk volta a música com 'Fossora' de maneira excepcional com um registro de excelência em inúmeros aspectos, trazendo consigo um conceito extremamente bem explorado, letras bastante interessantes e produções ricas e fantásticas, sendo seu projeto mais surpreendente desde 'Vespertine'.
1 | Atopos / 100 |
2 | Ovule / 90 |
3 | Mycelia / 90 |
4 | Sorrowful Soil / 90 |
5 | Ancestress / 100 |
6 | Fagurt Er Í Fjörðum / 85 |
7 | Victimhood / 100 |
8 | Allow / 100 |
9 | Fungal City / 100 |
10 | Trölla-Gabba / 100 |
11 | Freefall / 90 |
12 | Fossora / 100 |
13 | Her Mother's House / 100 |