É um bom disco, diga-se de imediato. Contudo, ele peca por pouca coisa em certos momentos. Parece um grande compilado da própria Marisa, além de não conter tantos momentos interessantes como de costume. Com 16 faixas, a sensação de que poderia ser menor em duração é bem recorrente. Até a metade, os temas são todos, de alguma forma, relacionado com a pandemia e a falta de esperança num Brasil melhor. Mas, ali pro final, o álbum ganha uma cara de mesmice: diversas canções românticas, mas com poucos destaques, o que se tratando de Marisa Monte, é no mínimo surpreendente. Uma das gratas surpresas é a presença de Seu Jorge na faixa final, que acaricia os vocais de Marisa suavemente, junto com a cantora Flor. Outros destaques são a penúltima faixa "Você Não Liga" - essa meio desiludida, meio apaixonada - e "Fazendo Cena" - um rock mpb leve porém assertivo. Em faixas como "Totalmente Seu", vemos uma Marisa pouco expressiva e sem muita vontade de estar ali, parece algo vindo de um disco ruim de artistas da "nova mpb". Soa redundante e apático, além do fato de que a canção fala fala e no fim, nao diz absolutamente nada, o que é ainda mais frustrante, afinal, ela dá início a parte mais bastardinha do álbum.
Marisa é e sempre será uma das maiores cantoras do Brasil. Isso é incontestável para qualquer um. Sua voz encanta gregos e troianos, e suas letras não poderiam ser mais identificáveis. Mas, neste álbum, Marisa erra e acerta nas mesmas medidas. O que é uma pena, visto que seus últimos discos solos sempre trouxeram um frescor que precisava em sua carreira. Em "Portas", isso não acontece. O disco é bom, mas infelizmente, não vale 10 anos de espera.