Na década de 1990, a carreira de Björk decolou. Ela estava nas capas de revistas, em artigos de jornais e até nas paradas musicais. Os seus dois discos lançados neste período, Debut (1993) e Post (1996), revelaram-se um alerta da força que viria a converter em música nos anos seguintes.
Essas duas obras, apesar de imprimirem as características visuais e musicais da artista, tiveram abordagens bastante distintas. Enquanto Debut manteve a intenção de condensar as raízes de Björk, Post fez o mesmo e avançou ainda mais com suas intenções. É um disco que caminha pelo passado e pelo futuro com muita facilidade, misturando sonoridades opostas e trazendo um arranjo estilisticamente pop que catapultou a islandesa ainda mais longe pelo mundo.
Homogenic, como ponto de ruptura, traz consigo a ideia de soar como um único produto. Björk, que havia passado do jazz ao trip-hop no álbum anterior, parecia determinada a explorar um terreno plano, com variações significativas, mas que o todo compensava, de maneira genial, as suas diferenças. Claro que, considerando aquele momento, a música eletrônica seria a peça principal do plano para concretizar suas ambições. E assim foi feito.
Liricamente, o álbum é um resumo perfeito da poesia de Björk. Fragmentos narrativos de sua vivência na época, com seus relacionamentos, suas amizades e seus problemas, a obra continha a essência necessária para ser, acima de tudo, um sinal de maturidade — daquelas que temos pouca oportunidade de conhecer.
Envolvida no processo de criação, incluindo a composição dos sons através dos sintetizadores utilizados, Björk expõe este disco através da sua mais sincera e emotiva demonstração de curadoria.
O resultado não poderia ser outro senão um álbum que conseguiu quebrar barreiras e instalar novas formas de elaboração e execução. Embora outros exemplos de música experimental já tivessem dado voz ao que a cena eletrônica fazia, Björk ainda insistia em trilhar seu próprio caminho.
Das cordas às distorções, dos sons interdimensionais aos mais orgânicos possíveis, Homogenic é a música eletrônica mais simples, robusta, contraditória e bem orquestrada já feita. É um exemplo vivo de coragem e sofisticação, criatividade e inovação que tornam este trabalho único e irrepetível.
Björk, no seu melhor, produziu, escreveu e conceituou trabalhos que moldaram o alternativo, o pop e o experimental de uma forma nunca antes vista. Cada arranjo, cada melodia e cada letra imposta a Homogenic consegue representar algo novo e distinto. É como se a música ressurgisse ali.