Não importa quanto tempo passe, não importa quais os caminhos percorridos por ela e, principalmente, não importa a recepção dos seus álbuns. Ela sempre vai nos surpreender com um pop único e cheio de identidade.
Embora seu nome não seja tão conhecido como o de Lady Gaga, Beyoncé, Ariana Grande, Billie Eilish ou até mesmo o da Dua Lipa, Charli ainda assim exerce sua importância no cenário da música pop como nenhuma outra artista dessa geração. Isto é, depois de percorrer caminhos arriscados, desconstruir o pop e avançar diretamente para o futuro criando uma nova sonoridade — entenda isso como os seus momentos na Pc Music e, posteriormente, no Hyperpop à partir de um sub-gênero —, ela, mesmo diante de momentos difíceis, nunca deixou de servir o mais puro e provocante poptimism.
Crash, seu novo álbum, chega a nós como uma insurgente declaração de amor para aquilo que ela mais sabe fazer de melhor: BOPs. Depois de um longo período marcando presença na vanguarda da música pop com os projetos Vroom Vroom EP (2016), Number 1 Angel (2017), Pop 2 (2017), Charli (2019) e How I'm Feeling Now (2020), Charli finalmente parece se distanciar daquilo que impulsionou o seu reconhecimento durante muito tempo. E quem pensa que ela iria se dar mal, já pode reconhecer que errou. Pois, Crash, é a reafirmação de Charli como uma das artistas pop mais importantes do nosso tempo.
"Good Ones", primeiro single do álbum, é a prova viva de que independente da direção assumida por ela, sempre iremos ser servidos com o que há de melhor na sua percepção musical astuta e verdadeiramente singular. Entre sintetizadores oitentistas e uma letra tentadora, ela canta com paixão e com liberdade sobre aquilo que não se arrepende de ter deixado para trás. A música ganha ainda mais frescor por se tratar da despedida de Charli da sua antiga gravadora, a qual explorou e fez ela de gato e sapato durante todos esses anos. Em seguida, foi a vez de "New Shapes" aumentar as expectativas daquele que viria a ser o seu projeto mais revelador até então. A música, apesar de conter ótimos ganchos e reunir Christine and the Queens e Caroline Polachek, pareceu não ter o mesmo efeito que as outras faixas lançadas. "Beg For You", por sua vez, é uma das melhores músicas de todos os tempos. Nessa faixa, Charli ao lado de Rina Sawayama, revisitam um clássico e fazem dele, um verdadeiro ponto de partida para algo que vai além da nossa compreensão sobre música pop. Para melhorar ainda mais, a música ganhou um remix feito pelo A.G. Cook — parceiro de longa data de XCX —, e um dos artistas mais interessantes da atualidade no K-pop, o Vernon do Seventeen. A faixa consegue soar perfeitamente ajustada à proposta original, mesmo ganhando um verso extremamente viciante do convidado especial, o que, sem dúvidas, faz com que ela seja tão especial e única quanto a sua primeira versão.
Depois, tivemos "Baby", e sua majestosa pegada anos 90, seguida por "Every Rule", música que conta com um ritmo desacelerado, mas ainda assim, cheia de emoção e com uma produção fantástica. "I'm breaking every rule for you", canta Charli quase 9 anos depois de "Break the Rules", uma das suas mais marcantes canções sobre juventude e rebeldia. Mesmo depois de lançado, o álbum não deixou de nos agraciar com ótimas canções, exemplo disso são as faixas "Constant Repeat", "Move Me" e "Lightning".
Por fim, podemos dizer que Crash marca a passagem de Charli XCX na música como nunca havíamos visto antes. Ao passo que vai evoluindo musicalmente, ela vai deixando a sua marca. E mesmo que esse álbum seja tão coeso em certos pontos, aqui, vemos uma total entrega artística por parte dos envolvidos na produção e na realização desse projeto que tem tudo para ser um dos melhores dessa década que se inicia. Entregando uma coleção repleta de nostalgia, com melodias noventistas e composições que esbanjam emoção, Charli mais uma vez faz aquilo de mais brilhante que consegue fazer: MÚSICA POP.