Gal Costa - Fa-tal- Gal a Todo Vapor
Jul 11, 2021 (updated Nov 9, 2022)
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Um disco que simboliza a arte, o instinto e o poder de Gal Costa.

Antes mesmo dos grandes clássicos internacionais ao vivo serem lançados, Gal Costa e Nara Leão, já haviam feito e disponibilizado suas gravações de shows em formato de LPs e isso, então, acabou mudando a forma com que os lançamentos nesse tipo de material passariam acontecer, não só no Brasil, como também, no restante do mundo.

Em 1971, qualquer tipo de manifestação artística que fosse considerada "subversiva" era fortemente reprimida pelos órgãos de censura da Ditadura Militar, instaurada no Brasil através de um golpe em 1964 apoiado pelos Estados Unidos. Nesse contexto, grandes nomes, principalmente os da Tropicália, eram constantemente atacados, perseguidos, capturados e torturados pelos militares. Casos como o de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil, que foram exilados no exterior, revelam o terror que eram aqueles anos. E, não muito longe deles, um nome chamava atenção por representar exatamente tudo que os militares mais desaceitavam: a liberdade, instinto esse defendido e presente na carreira de Gal Costa, a maior intérprete de todos os tempos.

Gravado numa temporada de shows no Teatro Tereza Raquel na Zona Sul do Rio de Janeiro, Fa-tal - Gal a Todo Vapor nasceu de um evento que estabeleceu Gal Costa como o principal nome da contracultura no Brasil. Com uma performance vocal indiscutivelmente marcante e um repertório musical de excelente escolha, as sessões do show protagonizado por Gal contava com algumas figuras bem conhecidas da MPB, como Lanny Gordin, Pepeu Gomes (dos Novos Baianos) e Jards Macalé, que juntos tiveram uma extrema importância na composição musical e de arranjos que foram a base da voz que artista iria explorar de forma viva e cheia de técnicas — algumas dessas técnicas são únicas e não puderam nunca mais ser repetidas, nem mesmo pela própria Gal —, o que aumentou ainda mais o prestígio do público e crítica, os quais descreviam a performance como uma experiência única e longe de tudo que já havia sido feito até então por qualquer artista no âmbito da música nacional.

Na lista de faixas, estavam inseridas algumas músicas de destaque como "Coração Vagabundo" de Caetano Veloso; "Sua Estupidez" de Roberto Carlos; "Falsa Baiana" de Geraldo Pereira e "Vapor Barato", que conta com mais de 8 minutos e começa com Gal imitando uma guitarra elétrica, imitação essa que até hoje é feita por todos que ousam interpretar essa música como um dia ela interpretou. Além disso, é impossível não citar "Dê um rolê", de Moraes Moreira, e "Pérola Negra", que é de longe a melhor do disco, composta pelo mestre Luiz Melodia, que com a ajuda de Gal, logo ficou conhecido no Brasil inteiro.

Como uma exposição de arte num museu, Gal Gosta em suas apresentações contavam com elementos que chocava o público e interessava qualquer um que buscasse uma dose de psicodelia, elemento que o diretor Waly Salomão nem precisou trabalhar muito, pois, sem o menor esforço, a artista conseguiu desenvolver uma experiência profunda no consciente e subconsciente do público, efeito esse que pode ser sentido até mesmo nos dias de hoje quando damos play em Fa-tal - Gal a Todo Vapor, um dos principais discos da história da música contemporânea, em que Gal Costa atingiu os limites que nenhum artista desde então conseguiu chegar perto, principalmente, quando falamos em interpretar com identidade algumas músicas das quais só funcionam como deveriam na voz dela, a eterna musa da Tropicália, movimento que não seria o mesmo sem ela e sem esse disco.

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1 Comment
1y
A beautiful and enlightening review, thanks for this
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