O disco abre com uma interpretação da clássica ‘Índia’ que dá nome ao álbum e que é de longe a melhor do álbum, tal como é a melhor versão feita da música. Gal canta de forma inigualável, a explosão vocal no final da música deixa qualquer pessoa que queira fazer sua versão da música no mínimo intimidado. De vez em quando surge a pauta de apropriação cultural em relação a essa música e ao photoshoot do álbum, mas condenar algo feito em 1973 onde o pensamento era totalmente outro e a maioria dos artistas estavam tentando por em evidencia as raízes culturais brasileiras é um pouco idiota. Ademais voz não tem cor, voz não tem raça.
Falando de apropriação, a Gal cantando uma música do folclore português logo depois da primeira faixa é uma ironia perfeita demais pra ser real. ‘Milho Verde’' música típica portuguesa segue o tom tropicalista do álbum sendo produzida com batidas africanas da Bahia. Em termos de composição, o álbum tem vários êxitos como a bela ‘Presente Cotidiano’, um samba com jogo de palavras, ‘Volta”, uma das mais belas e mais conhecidas da carreira da cantora, ‘Relance’, uma música que a principio é feita com palavras sendo cantadas repetidamente, mas quando se percebe o que elas realmente querem dizer o sentido muda completamente e ‘Da Maior Importância’, letra de Caetano, que de maneira bem sutil esmaga os sentimento a quem foi endereçada. ‘Passarinho’ conta com vocais doces quase sertanejos, caipiras, em uma lentidão que evoca paz. E ‘Pontos de Luz’ traz a sonoridade jazz para o conjunto, trazendo à tona a versatilidade de Gal e ainda assim soando coesa junta as outras músicas do disco. Por fim, não há nada mais irônico que Gal Costa acabar um álbum cantando ‘Desafinado’, canção bossa nova de Tom Jobim e Newton Mendonça.
‘Índia’ é uma das obras-primas que Gal tem na sua discografia, um desses álbuns atemporais, que não importa se fazem cinquenta anos desde seu lançamento, ainda vai soar moderno, coeso e que vai continuar inspirando diversas gerações que venham a seguir.